sábado, 19 de julho de 2008

COMO É A ESCOLA QUE VOCÊ E/OU SEUS FILHOS ESTUDAM E COMO VOCÊ GOSTARIA QUE ELA FOSSE?

No dia 07.06, discutimos a experiência de cada participante com a escola, e suas percepções sobre os aspectos estruturais e organizacionais; preferências e carências.

Com o auxílio de usuários do Telecentro, levantamos algumas informações sobre a situação atual percebida pelos alunos, principalmente pela Léia. Foram destacados os seguintes aspectos:

- Há laboratórios de informática, porém não estão permanentemente à disposição dos alunos, que só o utilizam sob a supervisão de um professor, além de ter inúmeros sites bloqueados (msn, orkut etc.) que embora não sejam de pesquisa, são importantes para a inclusão digital. Tanto é que muitos preferem utilizar os Telecentros.

- A estrutura contempla todos os ambientes necessários para o ensino: quadras, bibliotecas etc., mas os espaços estão deteriorados. Ainda assim, a quadra é o espaço preferido pelos estudantes.

-
Os alunos mais novos (média de 10 a 15 anos) não sabem dizer quais os assuntos tratados atualmente nas disciplinas escolares.

- Reclamam dos professores, que não desenvolvem uma didática que proporcione o interesse dos alunos.

Os participantes mais velhos apontaram diferenças importantes sobre a escola de ontem e a de hoje:

Segundo Minervino e Aparecido, a escola não tinha como principal função educar para o mercado de trabalho. Mesmo porque, muitas pessoas vieram para São Paulo sem instrução, e mesmo assim tinham a garantia de conseguir emprego.

Estes participantes têm facilidade de lembrar do conteúdo estudado, ao contrário do que ocorre hoje.

Ao final, os partiipantes elaboraram uma lista com os principais problemas:

- Falta de relacionamento entre a direção da escola e o bairro;

- Falta de segurança para os professores (sugerem modificações no ECA para coibir atos de violência dos alunos)

- Falta de professores (atualmente há muitas aulas vagas)

Em resumo, chegamos a conclusão de que os problemas do ensino tem como causa alguns fatores que estão além dos muros da escola.

No dia 14.06, a discussão foi sobre a importância da educação e do espaço público para a formação da identidade/cidadania, passando pelos problemas tratados no encontro anterior. Deste modo, o encontro foi norteado por um texto publicado no blog http://www.pulaomuro.blogspot.com/, que trata exatamente dos problemas externos que influenciam no ambiente escolar: a atual crise de valores, a qual agrega aspectos morais (nas famílias), passando por aspectos educacionais e até mesmo de ordem econômica.

É fato que ha décadas o formato das famílias vêm se alterando. Hoje, é grande a quantidade de pais separados e, mesmo os que estão juntos, há o problema da falta de tempo, uma vez que homens e mulheres trabalham, ficando menos tempo com os filhos. Com isso, a educação que vem da família, que tem mais a ver com a formação individual da criança (formação de caráter, se assim posso dizer), fica prejudicada. Observamos que, em muitos casos, os pais esperam que a escola os substitua nesta tarefa. A escola tem a função da educação para a sociabilidade. Isto é, ela deve ser um complemento da educação familiar, e NUNCA sua substituta. Como demostra o IDESP, atualmente o ensino público é de má qualidade, o que siginifica dizer que ele não consegue realizar nem o seu prórpio objetivo: a construção da cidadania, quanto mais substituir a educação familiar. Assim, temos que muitas crianças não recebem a devida atenção no lar (e aqui não estou criticando os pais, mas propondo uma reflexão sobre nosso atual modo de vida), e também não são devidamente educadas para a cidadania, na escola, configurando uma crise de valores

Por fim, e como complemento, relacionamos ainda um outro fator.

A partir de meados dos anos 1970, o Brasil entrou numa fase de abertura econômica, acompanhando o período de democratização. De forma mais intensa, verificamos nos anos 1990 a mudança no padrão de consumo dos brasileiros. Mais eletrodomésticos, mais carros, enfim, toda uma série de novos produtos passaram a fazer parte do horizonte da massa trabalhadora. Embora haja a disponibilidade destes produtos e dos novos padrões de vida, o acesso a eles ainda não é fácil. As pessoas não têm dinheiro para comprar os bens que, hoje, elas julgam necessários. Daí a grande quantidade de financiadoras, empréstimos etc, etc. Quando conversamos com pessoas mais velhas sobre as dificuldades vividas na juventude, eles dirão que mesmo para as pessoas que vinham de outras regiões do país, rapidamente se conseguia comprar uma casa. Geralmente, as famílias eram constituídas por jovens de 20 e poucos anos, e já com casa própria. Hoje, as pessoas não conseguem sair de casa sem se endividar muito.

Quanto a educação, não foi dada a devida atenção no sentido de formar cidadãos. Ou seja, os eforços ficaram concentrados na abertura econômica, e esqueceu-se da democratização. E sem cidadania não há democracia. E daí se fala muito hoje em crescimento, esquecendo-se do desenvolvimento. Ora, um país pode crescer, produzir mais e mais.... mas de que forma sua população está participando disso?

As novas gerações, desprovidas da educação básica - como foi colocado nos parágrafos anteriores - parecem ter incorporado este novo padrão de consumo como principal valor - na falta de outros. E pra isso fazem qualquer coisa. "Ser alguém" hoje, é TER!

Essa deterioração do respeito humano tem como principal característica o que alguns sociólogos chamam de "coisificação". Isto é, ver-se como coisa e tratar os outros como coisa (objetos). Repare que isto independe de classe social, são aspectos que perpassam todas as camadas sociais.

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Blog Pula o Muro. Sobre a atual crise de valores (a causa da causa). 11.junho.2008

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