terça-feira, 21 de outubro de 2008

COMO É O BAIRRO DOS EDUCANDOS?

Após duas semanas sem encontros, por conta de Festa da Primavera (que será tema de postagem neste blog) e também pelas Eleições, estamos de volta para tratar da questão: Como é o bairro em que seus educandos moram?

Para tanto, no dia 11/10, o IDENTIDADE EM REDE preparou dois mapas e trouxe alguns dados a serem discutidos com os participantes. Antes, porém, a opinião deles sobre o bairro - aspectos positivos e negativos, facilidades e dificuldades para os moradores daqui:
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Aspectos Positivos:

- Transporte: "tem para muitos lugares", aspecto quantitativo;

- Comércio: "de primeira necessidade", como mercado, açougue, farmácia;

- Iluminação Pública;

- "Espaço aberto": local público que proporciona aulas e oficinas de pintura, música etc.;

- Associação de Moradores do Jardim Miriam, onde também acontecem aulas de arte e onde funciona o EJA (Educação para Jovens e Adultos).
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Aspectos Negativos:

- Transporte, em seu aspecto qualitativo;

- Comércio de vestuário, eletrodomésticos etc.

- Não há Posto de Saúde;

- Não há parques;

- Não há cinemas;

- Não há creche (ou o número não supri a demanda);

- Não há praças;

- Não há bibliotecas.


Características do Bairro:


Perguntamos também aos participantes, o que caracteriza o bairro. Sem usar juízo de valor, o que é notório para quem chega na região do Jardim Miriam e Cidade Júlia. A resposta foi: muitos bares, igrejas "de garagem", comércios "de garagem". Além disso, também se verifica que as crianças sempre pedem para utilizar a qudra da escola, uma vez que não se tem quintal em casa. Há pouca EMEIs, poucos bancos, hipermercados, lazer para a família e é baixa a segurança.

Nesta situação, constatamos que muitos utilizam os equipamentos da cidade de Diadema, e embora o acesso seja restrito, sempre dão um jeito de conseguir atendimento. Por conta disso, perguntamos: o que há de melhor em Diadema? As respostas:

- Há muitas escolas;

- Há postos de saúde;

- Rede bancária, ao menos caixas eletrônicos;

- Todo o tipo de comércio;

- Teatro;

- Faculdade;

- Shopping Center (em breve!)

Os motivos que fazem de Diadema um local melhor estruturado deve-se a boa admistração da cidade para uma participantes moradora do município, e também pelo seu tamanho reduzido, sendo mais simples de administrar, para a moradora de São Paulo. é importante ressaltar que a parte de Diadema que fica ao lado da Cidade Júlia e Jardim Miriam é o centro da cidade. Estas diferenças, ficaram mais explícitas com a apresentação dos mapas elaborados.

Abaixo, temos dois mapas. O primeiro mostra a divisão dos bairros e a localização de moradia de cada participante:

Este mapa serviu para tirar as dúvidas a respeito da divisão de bairros.
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O segundo mostra a disposição dos equipamentos públicos da região, nas áreas de esporte, cultura, educação etc.

Verificamos através do mapa acima que não há, de fato, equipamentos de saúde e cultura na região. Podemos nos informar sobre a população e a renda média dos chefes de família, com base em dados do IBGE, projeção para 2007.

A população da Cidade Ademar, onde se localizao bairro, é de 245.807 habitantes, que representa 2,2% da população da capital paulista. Do total de habitantes, 53% tem até 29 anos de idade, sendo que 34% tem até 19 anos de idade.

A renda média mensal por domicílio em 2006 era de R$2.087,14, bem abaixo da renda média da capital, que no mesmo período era de R$2.997,41. Do total de chefes de família, 56% ganham até 5 salários mínimos, sendo que 21% do total ganham até 2 salários. Há ainda 14% sem renda. Todos estes percentuais são inversos aos totais da capital paulista, isto é, até 5 salários mínimos os percentuais da Cidade Ademar estão acima da médida da apital, e a partir de 5 salários mínimos os percentuais estão abaixo dos da capital.

Os mapas trouxeram um resumo da situação do bairro. Para uma visão mais detalhada de várias perspectivas, consutem o site "Criança e Adolescente 2007" (clique no título), do Instituo Lidas, entre com o CEP da escola (04424-030) ou o de sua residência, e terá vários mapas e tabelas sobre renda, escolaridade, quantidade de domicílios, média de moradores por domicílio, dados sobre violência, gravidez na adolescência entre outros.

No próximo encontro iremos discutir os por quês desta situação no bairro!

POR QUE OS EDUCANDOS MORAM NESTE BAIRRO?

No dia 20/09, discutimos como cada família veio morar na região onde se localiza a EE José Nascimento. As participantes, sobretudo as professoras, mostraram-se muito bem informadas sobre o histórico do bairro. Nos informaram, por exemplo, que o bairro onde a escola se encontra é Cidade Júlia, e não Jardim Miriam como imaginávamos (e que na verdade fica ao lado).

De início as participantes disseram que há realidades diferentes, e que portanto há diversos motivos para a chegada decada família na região. Podemos traçar um histórico de ocupação do bairro a partir desua origem: grandes fazendas, que foram divididas em lotes e vendidas pelos proprietários a partir do final dos anos 1950. Os bairros adiquiriram os nomes destes antigos proprietários, sendo que alguns ainda têm decendentes na região. Especificamente sobre o entorno do E.E. José Nascimento, as participantes nos informaram que:

1. O local era uma fazenda, dividida em chácaras e depois em lotes. A fazenda pertencia a Dona Júlia - e daí o nome do bairro ser Cidade Júlia - , que repartiu com seus dois filhos, os quais comercializaram;

2. Os moradores mais antigos compraram os lotes em 1959. Eram moradores de outras regiões da cidade de são Paulo, sobretudo de bairros da zona sul, relativamente próximos, em sua maioria oriundos do interior do estado e também muitos imigrantes;

3. Diz-se, também, que os patrões destes primeiros moradores adiquiram os lotes na região e revendiam a seus funcionários;

4. Não havia infra-estrutura no bairro, só a partir da construção da escola, em 1978, é que passou a se desenvolver. O terreno da escola foi uma doação da fmília de Dona Júlia, e abrigou o Colégio Cidade Júlia, em local próximo onde hoje está a E.E. José Nascimento;

5. Os primeiros lotes, comercializado a partir dos anos 1960, eram regularizados. Mas, com o passar dosanos, a ocupação passou a ser feita de forma desordenada e, em muitos casos, irregular. Próximo à conhecida "Praça do Miriam" há uma rua com calçada muito estreita, este local foi uma das ultimas chácaras loteadas da região, onde já se observam as residências sem padrão;

6. Nota-se, neste segundo período de ocupação, a chegada de famílias de outros estados, sobretudo da região Nordeste;

7. Apesar de Cidade Júlia e Jardim Miriam estarem situadas na região da Cidade Ademar, os moradores enxergam como locais distintos. Para eles, a Cidade Ademar é considerado um local "melhor para se viver", por contar com uma melhor distribuição de comércio e equipamentos públicos e privados, necessários no dia-a-dia (a disposição dos equipamentos na região será discutida no próximo encontro);

Os depoimentos dos participantes coincidem com os dado oficiais, que constam na página da Subprefeitura da Cidade Ademar. Em consulta ao site, soubemos do histórico, confirmado pelos participantes apenas com uma pequena divergência: aorigem dos primeiros moradores. Abaixo você tem dois elos que tratam da história do Jardim miriam e da cidade Ademar, basta clicar no título para ler as notícias:

Comunidade comemora aniversário do Jardim Miriam
, de 10/10/2005;

HISTÓRICO: Bairro surgiu na década de 1960 com povoamento de migrantes de outros estados

Neste segundo elo, notamos a ação importante dos moradores para a melhoria da qualidade de vida:

"A prioridade foi sempre o centro urbano de Santo Amaro, por causa do seu complexo industrial, o maior da América Latina com o centro urbano expandido e as demandas da periferia eram deixadas para um segundo plano.

A situação começou a mudar depois da década de 70, quando o movimento social começou a pressionar e lutar por melhoria de condições de vida. Embriões de organização popular ainda incipientes e clientelista surgiram depois do fim da ditadura militar e o processo de redemocratização que tinha, nas Sociedades Amigos de Bairros um espaço,onde os políticos faziam todo tipo de promessas e depois das eleiçõessumiam, ignorando os problemas da região."

Com base no depoimentos dos participantes presentes, podemosrelacionara história do país com o bairro. O fato de ele ter passado a tomar as característica de ocupação atuais, deve-se, sem dúvida, ao processo de mecanização do campo e industrialização iniciado nos anos 1930 e intensificado nos anos 1950, com a chegada da indústria automobilística. Neste sentido, vale destacar que o bairro faz divida com o município de Diadema, que pertence à região do ABCD, conhecida sobretudo por ser um importante pólo industrial, em especial no setor automobilístico, responsável por elevar estas localidades á condição de município.

Estes dois aspectos de nossa história política-econômica - a mecanização do campo e a intensa industrialização nos centros urbanos - fizeram com que as famílias se deslocassem de suas cidades de origem a procura de emprego na capital. Muitas destas famílias vinham já com a vaga de emprego garantido, uma vez que muitos proprietários rurais tinham também negócios na cidade e, se possível, acabavam por assentar as famílias em lotes relativamente próximos dos locais de trabalho.

Como complemento, soubemos que José Nascimento era um professor do interior de São Paulo, e que, provavelmente a homenagem tenha sido feita por conta desta ligação dos primeiros proprietários dos lotes. Mas isto é apenas uma hipótese que deverá ser melhor pesquisada e esclarecida.


Abaixo você tem imagens do início da ocupação do bairro, retirados do site da subprefeitura (elos acima)...

e aqui algumas imagens da região hoje...
mapa da região

entorno da E.E. José Nascimento

ruas próximas à escola.

QUAL A IDENTIDADE DOS EDUCANDOS?

Dia 13/09 teve início a Oficina de Blog na Escola Estadual Profº José Nascimento, uma realização do Projeto IDENTIDADE EM REDE em parceria com o FOLHAS AMASSADAS.

Logo de cara, fizemos a limpeza da sala, mesas e equipamentos, que se transformou em um mutirão, contando com a ajuda espontânea dos participantes que chegavam.




Terminada a limpeza, soubemos que a sala de informática, onde se realiza a Oficina, existe já ha três anos, mas por diversos motivos até então nunca havia sido utilizada.

Iniciamos com a apresentação da Oficina e perguntamos das impressões e expectativas de pais e professores presentes. Todos se mostraram dispostos após saberem das potencialidades do blog. Nenhuma das professoras têm um blog e apenas duas participantes disseram que visitam algum, na área de educação.

A primeira questão colocada: Qual a identidade dos educandos?, teve a intenção de sondar como os professores viam seus educandos e as condições de vida destes. Esta questão será repetida ao final da Oficina para mensuramos o grau de apreensão (e a utilidade) das discussões que ocorrerão.

De cara, observamos que os educandos são muito diferentes uns dos outros. No geral, os aspectos que determinam a identidade deles estão na estrutura familiar e na relação com a comunidade e com a escola.

O poder aquisitivo das famílias é considerado baixo, vê-se também uma busca por auto-estima que passa pela aquisição de status, e engloba uma série de atitudes e valores que o inserem no meio social. Um exemplo disto é a não utilização dos kits com material escolar, chamado por muitos de "kit favela". Observa-se na comunidade, que para alguns, utilizar estes materiais fornecidos pelo poder público lhes agrega um baixo valor social. Até mesmo o material escolar das crianças influencia na auto-estima dos moradores.

Por fim, a relação mãe-aluno é fundamental para o desenvolvimento das crianças. Embora pareça óbvio, é importante citar - já que se trata de uma constatação de professores e pais presentes -, que quanto mais ausente os pais estiverem do universo escolar, quanto menos eles acompanharem seus filhos, mais fraco e lento será o desenvolvimento do educando.

A falta de sonho e/ou perspectivas de algumas crianças devem ter origem no mesmo sentimento da parte dos pais, e isto por vários motivos, que vamos tentar tratar nos encontros.

Os temas levantados pelos participantes neste primeiro encontro foram "comportamento" e "organização", que se intereagem. Isto é, o comportamento dos alunos é, em maior medida, moldado pela organização escolar.

Exemplo de ótima relação entre escola e comunidade é a Escola Estadual Rui Bloem, no bairro de Mirandópolis. Há cursos para professores e a Associação de Pais e Mestres auxilia, através da arrecadação, a aprimorar o ambiente escolar. Além de parcerias importantes.

O site da Escola, com histórico, projetos, atividades e uma série de coisas pode ser visto clicando aqui.

Ao final, cada participante presente criou seu perfil no blog e agora já podem contribuir com postagens sobre atividades em sala, na escola ou inserir textos diversos.