quinta-feira, 19 de junho de 2008

POR QUE SEU BAIRRO É ASSIM?

No dia 17.05 tratamos da percepção dos participantes sobre a realidade local e a história do bairro nas dimensões espaço e tempo. Exposição do histórico de investimentos públicos no bairro.

Minervino trouxe um levantamento do desenvolvimento do bairro, desde o século XIX, que dispomos abaixo através de tópicos resumindo os períodos de transformação. A partir deste levantamento, abriu-se a discussão sobre os "porquês" das transformações do bairro ao longo do tempo.

Origem Indígena: O nome do bairro foi citado como constatação de sua origem indígena. Os índios que habitavam esta área deram o nome ao local, que significa "Pedra Dura", devido ao grande número de pedras que formavam o solo e da região.




Grandes Fazendas:
No século XIX a região foi dividida em fazendas que produziam café dentre outros gêneros.




Linha Férrea: Não tardou a construção de uma linha ferroviária por companhias inglesas, que transportava tanto passageiros quanto a produção local aos centros comerciais. Esta linha ligava o bairro ao Rio de Janeiro, então capital da república, e servia também como escoamento da produção agrícola. Posteriormente, o chamado "Trem de Prata" foi utilizado como passeio turístico, sendo desatiado nos anos 1990.


Rafael, participante da Oficina, trouxe em seu blog algumas informações sobre a origem de estradas e bairros a partir da divisão de lotes e a importância da Igreja neste processo:

"Após quatorze anos, as fazendas foram divididas em lotes e vendidas, os compradores fizeram algumas casas e construíram uma capela em louvor à Santa Ana, surgindo assim a Vila Santana. A Fazenda Caguaçu foi vendida à Companhia Carmozina, hoje Vila Carmozina. Foi aí que começou a povoação de Itaquera, em ritmo acelerado.

Os moradores de Vila Carmozina ergueram uma capela em louvor à Nossa Senhora do Carmo, trazendo para a mesma uma pequena imagem (hoje, Matriz Nossa Senhora do Carmo). O primeiro vigário foi o Revmo. Pe. José Bibiano de Abreu, natural de São Paulo, que inaugurou a Matriz a 23 de dezembro de 1928.

Entretanto, Itaquera nasceu com a denominação de "Paragem de Itaquera", quando o Pe. José de Anchieta, por volta de 1556, fundou o núcleo catequético Ururai (S. Miguel Paulista), ordenando a seguir que se abrisse uma estrada em direção ao Caminho do Mar, atual Estrada da Caguaçu, Av. Pires do Rio, Estrada de São Miguel, Estrada de Itaquera, Estrada da Fazenda e daí em diante, com várias denominações em virtude de sua incorporação aos arruamentos por onde passa, ou seja, Estrada João XXIII, Estrada de Sapopemba, Etc. Com a denominação de "Paragem" veio até o fim do século XIX, quando já estava dividida e duas fazendas: Caguaçu e Nossa Senhora do Carmo."




Início do século XX: Neste processo de loteamento das antigas fazendas, alguns estrangeiros compram terrenos no bairro.

Anos 1960 e 1970: Novas famílias chegam à região em busca de moradia barata. Estas famílias, em sua maioria absoluta, vieram de outras regiões do país em busca de trabalho e ali se assentaram dando nova configuração - a atual - ao bairro.


Final dos anos 1960 e 1970: Com a crescente povoação do local provocada pela migração, chega também a ordem dos Salesianos - atual Dom Bosco -, que inicia suas atividades embaixo das árvores e será de grande importância para as novas famílias que chegaram na região no processo de industrialização do país.

Anos 1970: Década de maior transformação do bairro. Nesta época, alguns dos antigos lotes são doados à Igreja. Neste mesmo período há uma chegada maciça de famílias. Muitas casas são erguidas em mutirões e no final da década inicia-se a construção da COHAB José Bonifácio. A Igreja amplia-se, com construção de salão onde acontecem reuniões entre moradores.


Anos 1990: Como resposta à carência de qualificação da mão de obra local, a Igreja passa a construir salas onde serão ministradas oficinas e cursos profissionalizantes. Construção da estação Corinthians-Itaquera do metrô.

Ano 2000: Construção da CDHU - Programa Mutirão. Com a construção da Linha E da CPTM - e da estação Dom Bosco -, consolida-se a vasta rede de transporte da região, o que valoriza o bairro. Ao mesmo tempo, empreendimentos privados, verticais e horizontais, são construídos.



Ano 2008: Contrução do novo prédio para oficinas, ao lado do atual espaço para oficinas e telecentro, onde se realizam os encontros do Projeto Identidade em Rede. Os antigos terrenos comprados pelos estrangeiros e que funcionavam com funcção religiosa fechados são vendidos para construção de novos empreendimentos imobiliários. No entanto, com a riqueza da área verde existente ali, a obra é embargada pelo IBAMA. Quem sabe um novo parque?

Algumas conclusões possíveis

Se por um lado observa-se uma forte relação social impulsionada principalmente pela Igreja, o aumento vertiginoso da população criou um problema de espaço no bairro. As casas já não tem quintais e não há parques nem praças no entorno da Obra Social Dom Bosco. Os participantes ainda destacaram a importância de cada administração no desenvolvimento do bairro. O governo Covas é marcado pela construção de casas em mutirões; o governo Maluf pela finalização da construção da COHAB e das principais avenidas; o governo Marta ficou marcado pela construção dos CEUs e da radialzinha.

Ao final do primeiro dia de discussão, a escassez de áreas verdes mostrou-se como a grande preocupação dos participantes para o bairro. Assim sendo, no dia 31.05 o encontro foi dividido em duas partes: num primeiro momento foi exposto aos participantes as prioridades de cada administração municipal no bairro, desde os anos 1970, e depois nos reunimos no espaço da Igreja Dom Bosco para conversarmos com Marcelo, integrante do grupo ALMA - Aliança Libertária Meio Ambiente - que realiza trabalho de educação ambiental na região e trouxe importantes informações sobre a destinação dos resíduos, reciclagem e fez alertas sobre o consumo.

O pouco espaço é o grande empecilho para a construção de novas áreas de lazer. Mais adiante, os participantes irão elaborar propostas para estes problemas.

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Ao final deste encontro, os participantes passaram a pesquisas imagens que retratassem cada uma destas fases. João Paulo e Minervino localizaram o site http://www.negociosemitaquera.com.br/ , que tem importante acervo de fotos do bairro e que ilustram esta postagem.


segunda-feira, 16 de junho de 2008

COMO É O SEU BAIRRO?

Nos dias 26.04 e 10.05, esta foi a pergunta tema dos encontros.

No dia 26.04, os participantes discutiram os aspectos positivos e negativos do bairro, os quais estão listados abaixo:

Pontos Positivos:

  • Muitas áreas verdes;
  • Locais de lazer e diversão (parques de diversão, parques, quadras e campos de futebol etc.);
  • Crescimento de áreas úteis para a construção de equipamentos voltados para cursos de qualificação e educação (novo prédio da Obra Social Dom Bosco);
  • Churrasco com os amigos (sociabilidade);
  • A movimentação de pessoas;
  • Desenvolvimento do local, principalmente na área comercial.
Pontos Negativos:
  • Desmatamento para construção de prédios, casas e comércio. Sugestão: para cada árvore derrubada, deveria se plantar três árvores em pontos localizados dentro do próprio bairro;
  • Aumento significativo da população, causando com isso o aumento das construções voltadas para moradia e conseqüentemente a diminuição das áreas verdes e também dos quintais das casas;
  • Estagnação do lazer e da cultura, pois os equipamentos destinados a estes fins são os mesmo de antigamente;
  • Diminuição de áreas verdes;
  • Desmatamento para realização de construções (empreendimentos habitacionais);
  • Falta de clubes para realização de atividades voltadas para o lazer, cultura e esportes.
As opiniões conflitantes no que se refere a existência de áreas verdes mostra o quão complexo é a questão ambiental em áreas periféricas, super povoadas. Ao mesmo tempo em que reclamam quanto a ausência de áreas verdes, vêem as construções de moradia e de equipamentos públicos como necessidade.

Para cada opinião, observa-se também diferenças na noção de espaço. Quando se elogia a quantidade de áreas verdes, geralmente se refere a um espaço maior que o distrito de Itaquera, abrangendo também o Parque do Carmo e o Conjunto Habitacional José Bonifácio. Como diz Rafael:

“É um bairro com muito verde e lugares para se divertir, como o parque de diversões que tem no centro de Itaquera, o Parque do Carmo, além de quadras e campos de futebol”.

Embora haja opiniões divergentes, todos associam a diminuição de áreas verdes com o crescimento do bairro. Minervino resume bem o sentimento em relação a atual situação:

“É um bairro em crescimento constante. Antigamente o espaço físico com áreas verdes era bem maior do que hoje em dia, sendo que o crescimento populacional e comercial fez com que estes espaços diminuíssem.O novo é sempre interessante.”

A frase acima em negrito sugere que toda nova construção mostra-se, em princípio, necessária. Mas a constante mudança da paisagem deixa a dúvida sobre a real necessidade.

No dia 10.05 foi exibida uma apresentação em powerpoint com uma sintese da discussão do encontro anterior e a exposição de dados oficiais sobre o bairro.

Em primeiro lugar, foi exibida a divisão por distritos na zona leste de São Paulo, subdividida em Centro-Leste, Leste 1 e Leste 2. Para os dados apresentados a seguir, foram considerados apenas os distritos da Leste 1 e Leste 2, que tem como limítrofes para a Centro Leste os distritos Penha, Vila Matilde, Cidade Líder, Aricanduva e Sapopemba. Assim, como comparativos, bairros como Vila Carrão, Vila Formosa e Tatuapé estão fora desta apresentação. A estrela indica a localização do Telecentro onde é realizada esta oficina.


Após, alguns dados foram discutidos:

População de Itaquera (2007): Total - 211.668 / Até 19 anos - 81.039

Como comparação, a maior população na zona leste está em Sapopemba, com um total de 289.345 moradores, sendo que 109.954 têm até 19 anos; e a menor está no Parque do Carmo (distrito vizinho), com um total de 66.170 moradores, sendo que 25.838 até 19 anos. Dada a demanda por espaço e moradias, os números nos alertam para a possível ocupação da região do Parque do Carmo, pouco povoada por abrigar uma APA - Área de Proteção Ambiental - onde se localiza um grande parque que dá nome ao distrito.

Rendimento médio dos chefes de família de Itaquera (2006): R$1.826,74 .Em 2006, o salário mínimo (SM) ficou em R$350,00. Portanto, a média do distrito equivale a pouco mais de 5 SM. No entanto, 56,7% dos chefes de família recebe ATÉ 5 SM e 22% até 2 SM.

A média municipal é de R$1784,93.

No mapa a seguir há a disposição de equipamentos públicos de Transporte, Saúde, Educação e Áreas Verdes, destacando a área de atuação do Telecentro Dom Bosco II (traço vermelho)e o distrito de Itaquera:


No entorno do Telecentro Dom Bosco II há 2 hospitais (um público - Hospital Planalto - e um privado - Hospital Itaquera); 1 escola pública de 5a. a 8a. série e Ensino Médio; 1 estação da CPTM (Dom Bosco). No distrito de Itaquera há mais 6 escolas de 5a a 8a. série e Ensino Médio e 1 de Ensino Fundamental e Médio; 1 CEU, 1 estação do metrô (Corinthians Itaquera), 1 estação da CPTM (idem), 1 grande pólo comercial. Há poquíssimas áreas verdes no distrito, e só no terreno da Obras Social Dom Bosco é que há área verde no entorno do Telecentro.

Temos, ao final destes dois encontros, um panorama de como é o bairro atualmente. A partir de agora, pesquisaremos os porquês do bairro ser deste jeito.

Para finalizar, seguem algumas imagens do local captadas em 05.04, na aula de campo realizada por ocasião da indisponibilidade do Telecentro, que estava fechado devido a manutenção na Obra Social Dom Bosco. Nelas estão registradas todos os principais pontos característicos do entorno, na visão dos participantes da oficina.

OBRA SOCIAL DOM BOSCO, onde a oficina é realizada.


Construção de novo edifício da OSDB em antigo terreno de horta comunitária, onde serão ministradas novas oficinas e cursos profissionalizantes.


Mutirão, ao lado do campo de futebol dentro da OSDB
CDHU, aos fundos do campo (sentido Conjunto José Bonifácio)
Novos empreedimentos imobiliários (sentido pólo comercial de Itaquera - centro)

Outras imagens serão utilizadas nas próximas postagens.

domingo, 8 de junho de 2008

Identidade em Rede é tema de reportagem


Neste mês de maio, a Revista Gente - publicação dos alunos do curso de jornalismo da Universidade São Judas Tadeu (USJT) - trouxe como tema de matéria o trabalho do Projeto Identidade em Rede desenvolvido no Telecentro Dom Bosco II.



A matéria de Luana Alcântara, intitulada Telecentro: um exemplo de educação e inclusão digital, apresentou na sua primeira parte informações sobre a constituição dos telecentros, sua organização e os procedimentos para utilização. Nesta primeira parte, porém, a matéria apresenta algumas informações desatualizadas.
Na segunda parte da matéria, o Projeto Identidade em Rede foi destacado como exemplo de atividade desenvolvida nos Telecentros. Dados do projeto como dia e horário de funcionamento, além de um resumo dos objetivos e as percepções dos educadores foram expostos.


O destaque da matéria foi o depoimento de Rafael Marquez, 18, participante da oficina de blog (ver quadro abaixo):

Com a publicação da matéria, podemos destacar o alcance proporcionado pelas informações disponibilizadas na internet - na qual os blogs se enquadram - e demonstra que a liberdade de opinião e de comunicação é peça fundamental para o exercício da democracia e da cidadania, foco principal do projeto.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

POR QUÊ VOCÊ MORA NESTE BAIRRO?

Após o encontro inicial, com apresentação do conteúdo a ser tratado na oficina, a primeira questão procurou fazer uma exposição dos motivos de cada participante para a vinda ao bairro e, posteriormente, estabelecer o vínculo de todas as histórias com a história do país.

Com as discussões em sala, o participantes levantaram os seguintes pontos como principais motivos para a vinda e constituição de moradia no bairro, além das particularidades de cada indivíduo:

•Em geral, observamos que a escolha pelo bairro deve-se ao baixo custo da moradia;

•Pode-se dizer que a maioria das famílias, de início, vieram do Nordeste em busca de trabalho na cidade de São Paulo e a construção de conjuntos habitacionais na região aumentou a população consideravelmente;

•A maioria dos jovens até 25 anos já nasceram no bairro (nestes casos, os pais vieram de outras regiões do país).

Como contextualizar estes aspectos na história do Brasil?
Para tanto, recorremos aos fatos relacionados, principalmente, à ordem econômica. Mais precisamente, sobre o processo de industrialização:

•A partir dos anos de 1930, inicia-se um processo de industrialização;

•O governo federal incentiva a vinda de trabalhadores do campo para preencher as vagas nas indústrias;

•Incentivos como a CLT só aos trabalhadores urbanos atraem famílias ao mesmo tempo que evita possíveis conflitos no campo;

•Nos anos 1950, acentua-se o processo migratório, a cidade de São Paulo tem rápido crescimento, mas não oferece estrutura suficiente. Os bairros da periferia passam a ser habitados;

•Nos anos 1970 há muitas moradias irregulares. Moradores da periferia se organizam em mutirões e também iniciam-se a construção de habitações populares (porém insuficientes para atender a demanda);

•No final dos anos 1970, começam as construções dos Conjuntos Habitacionais na região, quando a região passa por grandes transformações em seu perfil de moradia, além do grande aumento populacional.

Dessa maneira, a história de todos os participantes se juntam, apesar das particularidades. As noções de vínculo e totalidade aparecem nítidas nas condicionantes que trouxeram cada um deles, ou seus familiares mais antigos, a morar nesta região da cidade de São Paulo.